segunda-feira, 13 de setembro de 2010

instituto de estudos brasileiros

uma ampla sala forrada por livros até o teto em três das quatro paredes. no centro dela, uma mesa bastante comprida, bem talhada e feita de madeira nobre, rodeada por cadeiras de igual material, e encabeçada por um quase trono imponente.

parece uma biblioteca, ou uma sala de reunião para gente bem importante. mas foi a sala da primeira aula que tive aqui em coimbra. e, não, não é apenas um espaço provisório. o instituto de estudos brasileiros, que é o nome que este lugar recebe, é o abrigo das pouco valorizadas matérias sobre cultura e literatura brasileira. tão pouco valorizadas, que minha turma tem quatro alunos inscritos. quatro!

azar dos que não se inscreveram. minha professora é brasileira, carioca, e me causou uma primeira impressão bem positiva. mas só começará suas aulas efetivamente dia 4 de outubro. depois eu digo que até quero estudar, mas não consigo, e vocês não acreditam...

domingo, 12 de setembro de 2010

das minhas novas paixões


e então, como eu disse no post anterior, os ares começaram a mudar positivamente em coimbra na quarta-feira. o que eu não sabia é que tudo podia ficar ainda melhor, muito melhor, e numa velocidade assustadora.

hoje é domingo e, quatro dias depois de ter saído do meu casulo localizado aqui na avenida fernando namora, eu posso declarar com absoluta certeza de que estou completamente apaixonada. e, dessa vez, não apenas pelas ruelas, comidas ou noitadas dessa cidade. mas por pessoas que a habitam.

é engraçada a proporção que as coisas tomam quando tudo o que lhe é familiar e caro não te está às mãos e novos momentos e experiências tornam-se quase uma exigência para se seguir em frente. todo contato com novos seres é sentido de forma muito mais intensa, para o bem o para o mal. para minha sorte, o que anda à flor da pele são maravilhosos sentimentos.

porque tenho sentido esse contato do lado de cá com tal intensidade, hoje senti necessidade de apresentar a vocês aqueles que, entre uma praia de mentirinha e uma de verdade, muitas bebidas, entrega aos hits brasileiros mais duvidosos e muitas boas gargalhadas, eu realmente já sinto que poderei chamar de amigos.

eles são todos brasileiros. e, contrariando toda a expectativa que se tem no intercâmbio de afastar-se o máximo possível do que te remete à já familiar cultura e aproximar-se de rostos e línguas diferentes, encontro neles personalidades que vencem essa intenção de imediato, sem grandes esforços.

eu não me lembro de outra ocasião na minha vida em que eu gostei de cara de tantas pessoas ao mesmo tempo, sem uma ressalva sequer. todos são muito lindos. não só no clichê de possuírem um interior valioso. eu os acho tão bonitos esteticamente, também, que não me canso de clicá-los a todo momento e ficar fielmente admirada pelo resultado dessas fotos. os rapazes são todos encantadores, igualmente possuidores do dom de te entreter numa conversa pelo tempo que for e de instigar constantemente a vontade da proximidade. as meninas, todas incrivelmente doces, promovem a mulher brasileira de apenas atraente a apaixonante. têm os sorrisos mais lindos, daqueles que te trazem um calorzinho instantâneo dentro da alma.

não bastassem eles se encaixarem perfeitamente nos perfis que deixo aqui – sem vestígio algum de exagero – ainda carregam consigo a disposição desprendida que eu trouxe para coimbra e esperava também encontrar aqui para experimentar tudo o que portugal e o intercâmbio têm a oferecer.

eu já tenho saudade de cada gostoso minuto que passo ao lado dessas pessoas e ando desejando fortemente que muitos momentos memoráveis em suas companhias ainda estejam reservados a mim.

sabem de uma coisa? é muito verdade o que dizem sobre coimbra ser a cidade do amor.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

os altos e baixos da primeira semana de efetivo intercâmbio

o ruim de deixar de postar aqui com uma regularidade boa é que as histórias vão se acumulando e eu, que já sou notavelmente verborrágica, acabo tendo milhares de caracteres para entreter os mais dispostos a saber como anda minha vida portuguesa.

domingo passado, completaram-se 20 dias que já estava aqui em portugal. isso significou que era a hora de deixar minha mãe no aeroporto e seguir sozinha a partir daí. durante o tempo em que passamos quase que integralmente juntas, os pontos positivos de ter a companhia dela são inúmeros. e há apenas um ponto negativo, que é, porém, muito cruel: mais uma despedida.

não foi fácil dizer tchau para a minha mãe. primeiro porque a confusão do aeroporto incrivelmente lotado de lisboa não te permite privacidade para chorar ou a oportunidade de se demorar num último abraço antes do embarque; segundo, porque assim que acenei a mão pela última vez para ela, o peso da bagagem que tinha para empurrar parece ter se transportado instantaneamente para os meus ombros.

agora sim, era o intercâmbio na sua definição mais exata. e, muito entretida nos meus passeios, eu percebi que esqueci por dias que eu não estava apenas passeando, mas começando a morar do outro lado mundo.

a adrenalina que esse pensamento me trouxe secou rapidamente as lágrimas do meu rosto e me puseram atenta ao procedimento que eu deveria tomar para voltar pra a minha casa. e tudo correu bem, de forma que, em menos de 20 minutos, eu já estava dentro de um ônibus para coimbra. enquanto eu esperava pela sua partida, uma garota mais ou menos da minha idade carregada de muitas malas entrou sozinha no ônibus, também, e se sentou na poltrona na minha frente. pela janela, eu vi a sua mãe se despedindo, sorrindo calmamente. não havia lágrimas nos olhos de nenhuma das duas. nos meus, no entanto, as lágrimas voltaram a correr livremente, num misto de tristeza e inveja. eu saquei na hora que a garota era portuguesa e, ao contrário de mim, teria seu refúgio familiar quando quisesse a apenas duas horas do seu novo destino.

depois disso, não chorei mais. mas uma apatia que eu não havia sentido desde então se abateu sobre mim. e se prolongou pela segunda-feira nublada que casou perfeitamente com as minhas frustrações pela burocracia imposta pela faculdade e pelas pessoas pouco amigáveis que eu conheci enquanto tentava resolvê-las – sem sucesso.
ainda na segunda, achei que seria uma boa distração fazer compras para a casa. e realmente foi. até a hora em que eu saí do shopping carregada com uma sacola de compras com muitos desumanos quilos e fui pega pela chuva.

a terça-feira se seguiu com os insucessos burocráticos e a minha apatia se converteu no mais legítimo tédio, que acabou gerando revolta. então eu estava transformando os primeiros dias do que deveria ser a melhor experiência da minha vida em ócio improdutivo? não ia rolar de continuar assim. e, como que adivinhando a minha frustração, uma mensagem chegou no meu celular, mudando toda a perspectiva da semana. era um convite para a primeira festa do semestre promovida pelo erasmus, que aconteceria no dia seguinte (ontem, no caso).

pronto. festa. música. gente. álcool. as quatro palavras mágicas que levantaram o meu astral instantaneamente e transformaram o resto da terça e boa parte da quarta num revival de um dos raros capítulos felizes da minha adolescência: eu me sentia como nas vésperas das primeiras festas de 15 anos a que eu fui. ansiosa, experimentando todas as minhas roupas pretas – e a cor do traje era uma exigência da festa – para finalmente decidir que eu precisava de uma saia nova para a ocasião. eu decidi que ia de qualquer jeito, mesmo não conhecendo quase ninguém na cidade. mas, temendo que minha coragem fosse enfraquecida ao longo do dia e eu terminasse a noite trancada mais uma vez no meu quarto, assistindo a filmes até de madrugada, acabei indo atrás de conhecidos para me acompanhar. e eles foram: a bella, que faz ciências sociais na ufmg e é colega dos meus queridos futuros antropólogos, e o douglas, que também faz letras e foi selecionado para o programa de intercâmbio comigo.

eu pretendia contar com detalhes como se passou a noite, mas decidi que, posteriormente, dedicarei um post à noite de coimbra – e, para tal, irei atrás de mais experiência sobre esta.
por isso, só o que eu quero dizer desta noite é que ela não decepcionou de jeito nenhum a minha expectativa investida nela. da meia-noite às seis da manhã, eu conheci pessoas maravilhosas, desbravei dois bares e uma boate (e abri mão de uma segunda quando o dia quase já raiava), descobri uma promissora amizade, experimentei bebidas fantásticas a preços inacreditavelmente baixos (espumante de latinha a 3 euros é só sensacional), me diverti em contato com as mais diversas culturas e os mais bizarros comportamentos que surgem da mistura entre a bebida e o que não nos é usual.

eu não me olhei muito no espelho hoje, mas eu duvido que tenha deixado de sorrir desde que acordei. e, só pra me provar mais uma vez que as coisas boas sempre são atraídas pelo bom humor, eu finalmente venci boa parte da minha burocracia hoje.

agora, sim, eu estou realmente dentro do intercâmbio. e com um ótimo pressentimento de que, de fato, ele será a melhor experiência da minha vida. :)

obs: para os que estranharam a falta de relatos sobre as minhas aulas, bem... isso é só porque eu AINDA estou de férias. ô, vida difícil...