quarta-feira, 11 de maio de 2011

na minha queima ou na tua?

por aqui, não falta gente de fora pra dizer que português tem vocação pra sofrer. para essas pessoas, iniciar uma semana de festas com uma serenata a cantar uma saudade antecipada em face à despedida é o argumento perfeito da causa.

mas quem não entedia que saudade era essa antes de viver a queima das fitas, ou entendeu agora, ou não viveu coimbra.

capas negras para todos os lados, num volume nunca antes visto, já que agora os não-mais-caloiros também estão autorizados a usar o traje. mas, esta semana, muitas outras cores encheram a cidade de vida: o vermelho do direito; o amarelo da medicina; o roxo da farmácia; o azul escuro das letras e o claro das ciências e tecnologia; o laranja da psicologia; o marrom e branco do desporto, e o vermelho e branco da economia.

cores, cores, cores! nas fitas, nas cartolas, nos carros do cortejo. o que é o cortejo? eu poderia resumir simplesmente dizendo que é a melhor festa da qual eu já participei, mas acho que os que não o viveram pelo menos deveriam ter algumas direções para o visualizar.

no último domingo, com dois dias corridos de queima, os finalistas de curso queimaram não as suas fitas, mas seus grelos (e eu finalmente entendi o que são eles, mas deixo uma lacuna de explicações para dar espaço a eventuais piadinhas de sentido dúbio). ao pé da sé nova, o caldeirão disponibilizado para o ato parecia muito pequeno para a multidão que se enfileirava para o momento.

se um caldeirãozinho era pouco, porém, carros para comportar os novos fitados não faltavam. com as mais diferentes formas, mas sempre cobertos de flores de papel crepom, eles estavam prontos para um desfile que se iniciou no largo do dom dinis e terminou para lá da praça da portagem. me disseram que havia 150 deles. eu acompanhei tudo junto ao carro 54, onde desfilavam os meus finalistas-amigos das relações internacionais. isso significava que, antes de iniciar o percurso, nós deveríamos esperar outros 53 carros partirem do local de concentração. acho que a espera durou quase duas horas. só que não era exatamente uma espera, porque a festa já começava muito intensamente ali. cada carro possuía comidas e bebidas não só para os que estavam em cima dele, mas os que, cá embaixo, fossem julgados dignos de merecimento. afinal, quem se comporta mal não ganha cerveja! ou até ganha, só que no cabelo e na roupa. mas, esperem... quem se comporta bem também ganha banho de cerveja! e foi só um espirrar os primeiros pingos num amigo para que começasse a chover cevada por todos os lados, o complemento mais perfeito para o bonito dia de sol, e o mais perigoso para os cabelos escovados e as roupas brancas... como a que eu usava (e que, felizmente, teve salvação! valeu, vanish!).

na altura em que o carro 54 finalmente entrou em movimento, já tinha gente pedindo para parar. mas muitos seguiram em frente. muitos. descendo os arcos do jardim, onde se pode ter uma boa visão de toda a situação, ficou claro que toda coimbra tinha saído de casa para festejar. e por mais que aquela não parecesse uma festa de família, muitas delas mantinham-se a uma distância segura da multidão já enlouquecida que descia, para também se divertir, e por vezes se horrorizar com a intensidade de tudo o que se passava ali.

durante horas, bebi, pulei, abracei pessoas queridas, ri até não poder mais, até que finalmente meu corpo me pediu um colchão e um pouco de paz. e ele teve. por apenas duas horas. porque, mesmo que todo esse cortejo já parecesse demais, ainda havia os shows diários na praça da canção, já conhecida pela semana da latada.

eu acabei não escrevendo sobre a latada aqui, mas quando ela aconteceu, eu estive presente em 4 dos 6 dias de festa na praça da canção. isso me resultou numa gripe tão cruel, que, para a queima, eu havia me decidido por aparecer lá em apenas 2 dias. mas quem disse que consegui manter a promessa? a minha freqüência desde a última sexta-feira foi de 100%, e eu só não fui hoje porque, obviamente, de novo o meu corpo começou a reclamar, e porque amanhã pego um avião para botar meus pés na áfrica pela primeira vez na vida.

mas agora quase me arrependo por não ter adiado essa viagem por mais dois dias, porque na praça a alegria tem sido a mesma, regada a música boa, engraçada, ou de qualidade definitivamente duvidosa.

a minha queima das fitas termina hoje. e também é uma despedida para mim, como é para os finalistas. daqui a um mês, despeço-me de coimbra para ver um pouquinho mais do mundo europeu, e depois volto para os braços do meu nunca esquecido e sempre amado país.

e não posso reclamar da despedida. esta última semana conseguiu resumir todos os últimos nove meses que vivi, e evidenciar ainda mais a minha paixão por essa cidade, que será eterna.

em cima do palco principal da praça da canção, está pendurado este cartaz que contém a frase-emblema da queima: “mística, história... para sempre na memória”. eu poderia estendê-la para a cidade de coimbra e para todo o meu intercâmbio.

para os que não entendem a saudade antecipada, eu digo que entendo. e já a sinto.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

a prorrogação que leva ao segundo tempo

há mais de três meses atrás, quando escrevi meu último post aqui embaixo, os primeiros sintomas de saudade genuína começavam a dar uns leves apertos no meu coração. mas, muito maior que ela, ainda prevalecia a vontade de ver mais, de viver mais. a sede era tanta e o tempo era tão curto, que eu parei de escrever aqui para começar a escrever e.mails pedindo encarecidamente para que as pessoas que me trouxeram até coimbra deixassem que eu me demorasse por aqui.

não foi fácil. mas, com uma carta de recomendação aqui, uma ligação ali, uma súplica acolá, todas regadas a muita ansiedade, eu acabei conseguindo o que tanto queria.

meus quatro meses restantes em coimbra dobraram. ganhei mais tempo para conhecer melhor portugal e lugares da europa ainda não visitados; ganhei a oportunidade de cursar mais duas disciplinas que cobiçava desde que cheguei aqui, mas que descobri só serem ofertadas no segundo semestre; ganhei a oportunidade de viver a tão famosa queima das fitas de coimbra; e ganhei um monte de coisas com as quais eu definitivamentre não contava.

de início, ganhei mais rotina na minha vida conimbricense: a pilha de livros para ler foi acumulando e diminuindo minhas noites de festas. essas, quando eram possíveis, foram se tornando cada vez mais iguais e previsíveis, com os sets sempre iguais e aquela sensação muito belorizontina de que a maior parte dos rostos já era conhecido. ganhei dois casacos e dezenas de cachecóis, porque o calor extinguiu-se de vez e aquela mala que eu não soube fazer revelou-se finalmente ineficaz.

como uma coisa puxa a outra, o frio e a rotina me colocaram com muito mais freqüência à frente do computador. no computador, eu ganhei uma paixão. e, da paixão, eu ganhei aquela ânsia pelo regresso que várias vezes ouvi por aqui, mas nunca entendi.

e foi aí que eu ganhei uma grande risada do universo – que se muito tem de ironia, também carrega bastante de ensinamento. tal como dois corpos não podem habitar o mesmo espaço, duas grandes vontades nem sempre podem ter lugar ao mesmo tempo. portanto, se eu quis muito coimbra por mais oito meses, agora só me era permitido reservar ao brasil o segundo semestre de 2011.

quem passou a ser soberana foi a saudade – não mais localizada, mas geral. comecei então a perder. perdi o acesso ao botão fast forward que parecia ter sido involuntariamente ativado desde que cheguei aqui; perdi o entusiasmo pela vida alucinada de erasmus; perdi a cor pelo sol que, mesmo quando aparecia, se recusava a esquentar; e, recentemente, perdi de vista aqueles que são a parte mais significativa de todo o encantamento que eu senti e nutri desde setembro.

um a um, meus novos e já eternos amigos intercambistas – os quais vibraram pela minha permanência sem contudo querer imitá-la – empacotaram os 64kg de coisas permitidas pelas companhias aéreas (eventualmente deixando o excesso para mim) e partiram de volta ao que hoje é meu destino mais almejado, mas não encontrado na lista dos vôos low cost.

na semana passada, eu vi partir da estação o comboio que levava minha última delicinha coimbrã embora. recusando-me a aceitar que eu havia perdido em definitivo tudo o que essa cidade me deu de bom, eu me programei para uma empreitada rumo à redescoberta das noites ao redor da praça da república e ao conhecimento de novas pessoas. não deu: adoeci.

mas eis que a vida nada mais é que uma onda senoidal e, no tempo que levei para me curar da gripe, acabei curando um pouco da negatividade que vinha tomando conta de mim há algum tempo.

no meu tempo forçado de repouso, acabei revendo todas as fotos e vídeos capturados por aqui até então. seguindo a ordem cronológica dos arquivos, lembrei com exatidão dos momentos que foram registrados e daqueles que não foram.

e aí eu cheguei na pasta “coimbra tem mais encanto na hora da despedida”. e com essa última foto que eu tirei com a mari...

... eu me lembrei dela me mandando parar de contar os dias para o retorno e aproveitar coimbra como eu sempre o fiz.

e com essa última foto que tirei com a lena...

...eu me lembrei do pesar que ela demonstrava vivamente ao ter que deixar essa cidade e do pedido dela para que eu vivesse esse prolongamento de intercâmbio por nós duas.

agora, com essa última foto que tirei com a fê...

... eu me lembrei dela me ensinando que o tempo passa no tempo em que ele tem que passar, e que, assim sendo, só nos resta respeitar seu ritmo e tirar o melhor dele.

e aí sim, como um interruptor da obviedade que não se quer enxergar, acendeu-se em mim a conclusão de que nada foi perdido. os amigos que eu fiz aqui agora estão à minha espera no lugar para o qual eu vou voltar, num dia que já é certo e num futuro não tão distante assim. antes disso, a cor que o inverno me tirou, a primavera vai me trazer de volta. e se a vida de erasmus não é mais novidade, talvez isso seja um benefício para que as festas terminem em menos ressaca – o que, sinceramente, seria um ganho nada mau.

com esse post, eu ressuscito meu blog e o meu intercâmbio, decretando o início de um novo , com a vontade de novos amigos – porque, afinal, por melhores que sejam os que a gente já tem, eles nunca são demais – e com a ânsia por novas descobertas.

no coração, muita saudade do que já foi, mas também um pressentimento sincero de que a minha onda está prestes a subir novamente.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"a verdadeira afeição na longa ausência se prova"

80 dias longe dele, 60 dela. e um choro doído que não cessa. uma saudade que bateu pra castigar; que trouxe a vontade do único cafuné autorizado a bagunçar meu cabelo; que tornou quase real a sensação de beijar o rosto gostoso da barba recém-feita cheirando a malbec.

se eu estendesse os meus braços agora, eu tenho a certeza de que poderia fechá-los no tamanho exato em que coubesse cada um dos dois no abraço mais apertado do mundo.

acho que hoje não é, enfim, saudade. tá mais para a expressão física exata do termo “falta”.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

feijoada transmontana

em coimbra, universitário miserável só é também morto de fome se quiser. além de todos os produtos absurdamente baratos que você encontra nos supermercados, e do programa que te ensina a combiná-los inteligente e deliciosamente, a universidade oferece uma diversidade considerável de pratos a preços bem razoáveis: além dos bares que você encontra em todas as faculdades (o da letras sempre me lembra do da faculdade de economia da ufmg, em cardápio e preço), o complexo universitário possui – como eu acabei de verificar – 15 cantinas.

o que eles chamam de “cantina” por aqui é o nosso velho conhecido “bandejão”. minto: nosso, não, porque eu devo admitir que almocei no bandeco da ufmg apenas uma vez durante todo o meu curso, logo no meu primeiro mês de caloura. sempre tive uma preguiça absurda de atravessar meio campus debaixo do sol de meio-dia para comer uma refeição que, na única vez experimentada, parecia se avolumar cada vez mais quando já dentro do meu estômago.

mas, tendo que comer em euros, e nem sempre com paciência ou tempo para fazer as receitas que eu passo no caçarola (último merchandising, prometo!), ganhei bem mais disposição para conhecer o que as cantinas daqui tinham a oferecer.

e não me decepcionei! bom, não muito. a maioria delas oferece diariamente o prato social, que consiste em:

1 pão
+
uma tigela de sopa
+
um prato com uma das opções do dia (são duas ou três, geralmente)
+
uma garrafinha de água ou um copo de suco (de amarelo, igual ao do bandeco)
+
uma fruta, ou uma sobremesa (arroz doce ou leite creme.. recomendo ambos!)


o preço desse combinado é €2,40. por alguns cêntimos a mais, você pode trocar a sua água por um refrigerante, ou mesmo (sério!) uma cerveja, um vinho. também é possível variar nas sobremesas.

mas muitas das cantinas oferecem ainda outras opções para quem não aguenta comer a mesma coisa toda semana: na cantina amarela (que leva esse nome pela cor das mesas e cadeiras), há sempre uma ou duas opções de pratos vegetarianos, além de um quiosque que vende baguetes numa versão mais modesta do subway; na cantina azul (adivinhem...), fica também o “snack bar”, que serve os pratos mais elaborados e tradicionais da culinária portuguesa; no mesmo edifício da cantina azul, fica também a cantina de grelhados, em que você escolhe a carne que mais te apetece, e ela vem acompanhada de arroz, salada e batata frita; nunca estive na cantina do estádio municipal para saber se há lá algo de especial, mas sempre me dizem que a comida lá é mais gostosa.


e, por falar em arroz, devo dizer que a relação que desenvolvi com o arroz das cantinas da uc é um bocado estranha. os que me conhecem mais intimamente sabem que o arroz é o componente mais fundamental de todas as minhas refeições – chegando, por vezes, a ser o único. minha mãe pode confirmar isso com incontáveis histórias de situações em que ela se esmerou ao máximo para preparar algum saboroso e diferente prato para o almoço, e recebeu da minha parte comentários elogiosos apenas sobre o arroz.

o arroz da minha mãe sempre foi campeão: torrado e cozido na medida certa, branquinho, soltinho, com aquele gostinho especial de alho. e o arroz da minha mãe é o OPOSTO do arroz das cantinas da universidade, que consiste numa bolota levemente massuda de medida padrão e meio encardido, cozimento (a meu ver) incompleto e pouco tempero. o caso é que eu desenvolvi uma danada de uma relação de dependência com esse arroz da cantina! e nem adianta justificar que é conformismo diante da necessidade de ter o grão nas minhas refeições. isso porque, às vezes, eu consigo reproduzir em casa algumas cópias quase fiéis do arroz da mamãe, mas o como pensando no quanto o trocaria facilmente pelo das cantinas.

esse tipo de relação errada e doentia me fez estragar o almoço de ontem, persistindo no prato social de quinta-feira que vem acompanhado de arroz: a feijoada transmontana.

essa é a feijoada transmontana, tal como é servida nas cantinas:

foto do meu prato de ontem. não dá pra ver na foto, mas juro que o arroz é encardidinho!

eu me lembro da primeira vez em que a experimentei. estava na fila, esperando para ser servida, e acompanhada de vários brasileiros que, como eu, foram atraídos para lá pelo convidativo nome, que nos criava a expectativa de feijão preto, linguiça e paio. nos meus pensamentos mais ousados, eu ainda me permitia sonhar com uma farofa e com a imitação portuguesa bem digna da couve.

acho que vocês podem imaginar a cara de decepção de todos quando alcançamos um lugar em que já podíamos dar uma espiada no prato, que, no final, tinha uma inclinação muito maior para se passar por dobradinha. um dos garotos que estava comigo, nesse momento, aproveitou que estávamos na cantina amarela e decidiu que era uma boa hora de tentar ser vegetariano, fugindo rapidamente para outra fila. os outros e eu resolvemos encarar.

não rolou. pelo menos para o meu paladar, a feijoada transmontana é um erro, seja como feijoada, como dobradinha, ou como “feijão com tranqueiras”. mas o prato foi, pelo menos, a sensação daquele dia. ao fim do almoço, nos intervalos da aula, pelos corredores da ruc, eu ouvi pelo menos cinco vezes uma conversa bem semelhante:

_e aquela feijoada, hein?
_feijoada? com repolho? hahahahahaha, tá bom!
_não tinha carne, só gordura!
_faltava sal!
_feijão duro, po...
_e o que era aquele mato não identificado ali no meio?

percebi o quanto pegar um nome emprestado da cultura do alheio pode ofender seriamente esse alheio. penso que seria como oferecer ao português um bacalhau com natas feito com peroá e que levasse batatas doces no lugar das inglesas.

mas eis que, ontem, entre o bacalhau à gomes de sá, que só vinha acompanhado de salada, e do feijão usurpador que me prometia um montinho do duvidoso arroz que caiu nas minhas graças, acabei me forçando a acreditar que, dessa vez, por estar na cantina azul e não na amarela, poderia experimentar alguma melhora no prato.

nenhum sucesso. e já deu de feijoada transmontana pra mim. não importa o que digam, não como nem a da cantina do estádio.

domingo, 24 de outubro de 2010

coimbra songs

amália rodrigues cantou há um bocado de tempo atrás o que vocês provavelmente conheceram pela voz do roberto carlos:

coimbra das canções
coimbra que nos põe
os nossos corações à luz
coimbra dos doutores
pra nós os seus cantores
a fonte dos amores és tu.

mas o que os doutores de coimbra cantam? durante as serenatas, o bom e tradicional fado, claro. mas, no cotidiano universitário dessa cidade, o que se ouve sendo entoado nas ruas, nas festas, nos ônibus, e ao pé da janela da sala onde você está tentando se concentrar em entender o que o profesor diz são canções nada melancólicas, tampouco ligadas ao destino português.

isso não significa, no entanto, que elas também não sejam tradicionais! aliás, eu sou capaz de apostar que alguns jovens portugueses têm na ponta da língua todas as músicas que eu apresentarei, mas talvez encontrem alguma dificuldade em recitar por inteiro qualquer música da diva fadista acima citada.

não posso culpá-los por isso. a combinação de fatores que as compõe, incluindo a situação em que são cantadas, fazem com que elas grudem na sua cabeça com uma facilidade absurda. não demora muito para que você também fique à procura do momento certo para soltar uma delas.

muitas delas são constituídas de letras quase sempre pesadas – algumas sendo, inclusive, impublicáveis neste blog de respeito – associadas a melodias de músicas que todo mundo conhece. dos engenheiros, por exemplo, o que mais se ouve é uma versão de “yellow submarine” que seria vetada com muito mais força que a releitura de “i want to hold your hand” proposta pela rita lee foi.

algumas são como hinos para os cursos. outras são hinos para a faculdade inteira. e algumas são apenas um fundo para incentivar a bebedeira desenfreada, como as duas primeiras que apresento a seguir.

“mão direita é penalty...” e “bebe essa merda”

começo por uma que, pelo que já pude perceber, não foi criada aqui, e parece ser bem popular em todo o país.

lembro-me de alguém ter me contado que, aqui em portugal, não se pode beber vinho com a mão direita. não é apenas errado, mas ofensivo para o português. para ensinar isso aos que vêm de fora, criou-se uma perigosa lição: sempre que alguém flagra uma pessoa bebendo algo (e não precisa ser exatamente vinho... não aqui, pelo menos) com a mão direita, canta-se:

mão direita, mão direita
é penalty, é penalty, é penalty...

para os apressadinhos, a música começa lá pelos 36 segundos de vídeo



e a pessoa é obrigada a beber todo o conteúdo do copo de uma só vez. no brasil, essa situação certamente pediria um “vira, vira, vira, virooou!” enquanto a pessoa estivesse cumprindo sua penalidade.

em coimbra, o fundo musical para o momento é o refrão de “can’t take my eyes of you”. modificada, é claro, para

bebe essa merda, lá lá lá lá lá lá
bebe essa merda, lá lá lá lá lá lá...

o áudio do vídeo é MUITO ALTO! cuidado com os ouvidos!



“f-r-a-” (“éfe-érre-á”)

essa é tradicionalíssima! e tem história, que eu achei na wikipédia:

o grito académico português, ou F-R-A ("éfe-érre-á"), acrónimo de frente revolucionária académica, é um grito exuberante lançado pela comunidade académica portuguesa como saudação de honra ou mera manifestação de alegria.

criado originalmente na academia de coimbra como 'arma' de luta política, pensa-se que terá sido dito pela primeira vez pelos quintanistas de medicina, na noite de 26 de maio de 1938.

a música talvez já tenha sido esvaziada de seu sentido primeiro, mas continua igualmente empolgante! como eu só ouvia onomatopeias e interjeições esquisitas sempre que alguém puxava o f-r-a, acabei perguntando ontem para o murillo, que é caloiro, o que exatamente dizia a música. e, no fim das contas, a letra não está tão distante da minha impressão inicial. geralmente, ela é entoada em forma de pergunta-resposta entre um “puxador” e a malta (= turma, galera. faltou essa no meu nanodicionário, hein!):

_então malta, para
este nosso colega,
não vai nada,nada,nada,nada?

_tudo!

_mas mesmo nada,nada,nada,nada?

_tudo!

_então, com toda a cagança,
com toda a pujança
e do fundo do coração,
aqui vai um...F-R-A!

_Frá!

_F-R-E

_Fré!

_F-R-I

_Frí!

_F-R-O

_Fró!

_F-R-U

_Frú! Frá-fré-frí-fró-frú!
Áli-quá-li-quá-li-quá! (bis)
Chiribiribi -tá-tá-tá!(bis)
Hurra! Hurra! Hurra!



“coimbra é nossa”

essa é, definitivamente, a minha favorita! talvez porque me lembre os meus tempos de mineirão com o meu pai, cantando “é cruzeirô! é cruzeirô!”, já que a melodia é a mesma; ou talvez porque resuma o meu sentimento quanto à cidade de uma forma nada romântica, fato, mas bem fiel:

coimbra é nossa!
coimbra é nossa!
coimbra é nossa e há de ser...
coimbra é nossa e há de ser,
coimbra é nossa até morrer!



esse post é uma pequeniníssima amostra das coimbra songs que tenho aprendido diariamente. está aqui mais uma prova de que, em coimbra, ter uma divertida vida universitária é coisa séria.


quem fala português? - parte 2

eu tenho muito para contar sobre a latada, mas deixarei isso para a quinta-feira de cinzas coimbrã, quando já tiver visto e vivido de tudo, e tiver noção do tamanho do estrago que ela fará aos estudantes da universidade.

por isso, enquanto me recupero da madrugada de ontem e ainda considero a ideia de aproveitar a de hoje, sentei ao computador para falar de outra coisa.

o que acontece é que, ontem, enquanto eu praticamente cambaleava pela latada – e não, eu não acho isso bonito –, alguém me chamou no meio da confusão e começou o seguinte discurso veemente, mas risonho:

_ ei, eu sei onde fica belo horizonte, e eu vou te falar agora: é a capital de minas gerais! eu colori os mapas na 4ª série, e a minha família é de barbacena, que fica a duas horas da sua cidade!

quem dizia isso era a julia allevato. porque eu estava bastante alterada e ela parecia estar na mesma condição, eu a princípio não entendi nada do que era aquilo. até que eu me lembrei dela, e vocês certamente se lembrarão, também.

a julia foi a garota carioca que eu conheci no meu primeiro dia sozinha em coimbra, e sobre quem eu postei a seguinte mensagem no meu mural do facebook:

lembra da 4ª série, quando a gente fazia uns exercícios pra decorar os estados brasileiros e suas respectivas capitais?

pois eis que hoje me chega uma menina do rio e me pergunta: "de onde você é?". eu respondo "belo horizonte!" e ela devolve "onde fica essa cidade?".

qué dizê...

naquele mesmo dia, a julia acabou me achando entre os contatos da fê, viu a mensagem, e eu nem sei se ela pensou em me adicionar por lá, mas eu imagino que, se a vontade houve, ela passou no momento em que ela reconheceu ser a personagem do meu relato.

acontece que, na ocasião, ocorreu à julia o mesmo que me ocorreu quando eu conheci a fê, e o mesmo que me acontece diariamente no meu contato com os portugueses: não familiarizada ao meu belorizontinês de palavras pronunciadas pela metade, ela não conseguiu entender que “belzôntchi” era a capital do estado vizinho ao dela, conforme ela aprendeu na 4ª série e nunca mais esqueceu, assim como eu. e ao contrário de mim, que nessas situações sempre opto pela tática de apenas soltar um “huuuum!” e nunca saber o que realmente me disseram, a julia parece mais disposta a fazer um esforço extra para entender as pessoas.

eu nem preciso ressaltar que, visto que minas são muitíssimas, ter descendência barbacenense não necessariamente a deixa preparada para travar uma conversa comigo sem equívocos linguísticos, né?

junto com essa retratação – que eu prometi à julia ontem, mesmo ela dizendo não ser necessário –, vai também o reconhecimento de que passar toda a minha vida convivendo quase que exclusivamente com um só dialeto e cultura me tornaram um bocado intolerante para receber bem de cara outros sotaques e comportamentos. e me parece que eu talvez tenha me preparado bastante para entrar em contato com os estrangeiros, mas não estava realmente aberta para aproveitar o período em outro país para conhecer um pouco mais do meu. felizmente, parece que coimbra vai acabar me curando desse mal.

quem poderia imaginar que fazer intercâmbio numa cidade de interior acabaria me deixando, na verdade, menos provinciana?


(nota: logo que esse incidente com a julia ocorreu, o henrique me alertou para o fato de que ela podia simplesmente não ter me entendido. aposto que, se ele ler isso, vai vir tirar uma com a minha cara.
)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

babelbabelbabel!


ESTREIA DO PROGRAMA "BABEL" NA RUC (Rádio Universidade Coimbra) AMANHÃ:

para meus queridos brazuquinhas - o programa vai ao ar a partir das 17h do nosso amado varonil e pode ser ouvido aqui: www.ruc.pt . mais: para os saudosos da era coleguiana, uma homenagem quanto à música escolhida para o meu bloco de culinária, que (se não me engano) é o último do programa.

para os meus queridos erasmus - 20h. 109,7 fm! podem tratar de ouvir, pá! e sem desculpa de que não tem rádio. primeiro, porque eu tenho certeza que rola de sintonizar com o telemóvel vodafone que tooodo mundo tem! segundo, se não rolar, ainda resta o site!

visto que gravamos o programa sem cortes, o que rendeu uns 20seg de "huuuum, éeeee, hãaaa..." meus, eu fiquei seriamente com medo de divulgar logo na primeira semana de cara, mas... ah, eu quero que vocês ouçam o resultado do trabalho mesmo assim! ;D