segunda-feira, 26 de julho de 2010

o medo é normal

há umas duas semanas atrás, eu twittei (tuítei? como faz?) a seguinte frase: “descobrindo como a excitação pode ter muito de hesitação...”. sou bem adepta aos tweets com um ar aforístico que podem ou não se referir a uma situação pessoal – e a maioria das pessoas (ou todas) nunca vão saber. só que, neste caso, estou abrindo mão da dúvida e desenvolvendo em um post o quanto esse tweet foi pessoal.

foi há mais ou menos duas semanas, também, que eu caí na real de que vou mesmo morar do outro lado do mundo por seis meses.

“qualé, marcela! tem quase três meses que você só fala e justifica sua vida em função disso!” – fato. mas, enquanto a gente convive apenas com uma idéia certificada por aparatos abstratos, ela sempre parece bem passível de não concretização. defino como aparatos abstratos, no meu caso, a aprovação no programa do dri o ano passado, minha matrícula enviada à universidade de coimbra e devidamente aprovada e a carta de aceite que recebi no começo de junho. e os denomino assim, a despeito de toda a autenticidade oficial dessas etapas, porque nenhum deles garantiria a minha passagem. e quem já foi ou vai viajar em intercâmbio sabe como a passagem é um marco importante no processo: a recomendação é que nada seja comprado ou agendado antes que você as tenha – o seguro de saúde vem depois, o pedido de visto, também, além da reserva para a primeira acomodação, e mais tantas outras coisas. então, até que meu pai se sentasse em frente ao agente de viagens e passasse a ele o cartão para efetuar a compra das passagens, estive mesmo que inconscientemente alerta , esperando que, a qualquer momento, se chegasse à conclusão de que, afinal, não valeria a pena desembolsar tanto para que eu fosse estudar fora. minha mãe vai ler isso e julgar tal desconfiança absurda, mas vai entender como funciona a cabeça da gente!

mas eis que o cartão passou, e eu tinha uma data de ida e uma de retorno certas: 15 de agosto de 2010 e 26 de fevereiro de 2011. tava comprada e datada a prova concreta de que eu precisava. e daí eu tinha um mês para arrumar toda a minha vida para viajar. e, desde então, posso realmente dizer que não só meus pensamentos e conversas têm girado em torno do intercâmbio, mas quase todas as minhas atividades diárias. daí, eu comecei a sentir algo que, até então, não tinha apertado meu coração em momento algum: medo. medão!

eu tenho certeza de que quero fazer intercâmbio desde que entrei para a ufmg. e se, a princípio, a vontade era movida pelas possibilidades de enriquecimento acadêmico e de – claro! – ver o mundo, depois passou a ser nutrida também pela oportunidade de viver uma independência que nunca tive; de poder morar sozinha e poder me organizar como bem entender, ou fazer as coisas no meu tempo sem que isso incomode ou mesmo atrapalhe outra pessoa. e a sensação de liberdade, então? mudar-me para um lugar onde ninguém me conhece e, justamente por isso, não espera nada de mim.

mas agora, eu paro e penso: e seu eu não conseguir me organizar sozinha? e se a liberdade de poder fazer tudo no meu tempo fizer com que eu acabe não fazendo nada? e se eu me colocar em alguma situação na qual ninguém poderá me auxiliar, justamente porque não me conhece?

depois do que foi relatado nesses seis longos parágrafos, eu chorei pela primeira vez em função do intercâmbio. e eu desconfio que esse foi o primeiro de muitos!
foi aí que a minha mãe, que é alguém que me conhece e de quem eu sou dependente, veio me perguntar se eu queria desistir, me prometendo total apoio em qualquer que fosse a minha decisão. e essa foi a melhor pergunta que ela poderia ter feito, porque me resultou numa gostosa gargalhada de certeza de que essa idéia não me passa de jeito nenhum pela cabeça!

na hora, eu me lembrei de uma professora de canto que eu tive que, tentando trabalhar o meu nervosismo de estar no palco, me ensinou que as coisas que realmente queremos têm esse poder de nos amedrontar, também. e que, por isso, podíamos identificar as nossas maiores vontades pela hesitação que elas nos causavam. e, com essa lembrança, só pude mesmo concluir que a minha certeza de quase quatro anos sobre o intercâmbio está mais sólida que nunca. e que o medo é bom, porque te faz especialmente atento para os pontos em que você teme falhar.

também lembrei de uma música do gonzaguinha de que gosto muito, chamada “um sorriso nos lábios”. gosto muito da versão da verônica ferriani pra ela, e sempre entendi que ela cantava, num certo ponto da canção, “o medo é normal, e um sorriso nos lábios”. descobri ontem que, na verdade, a letra é: “um medo anormal, e um sorriso nos lábios”. mas decidi que ficarei com a minha versão. :)

4 comentários:

  1. entendo cada letra, cada sensação. mas o meu medo vem me incomodando há mais tempo, assim como as crises de choro. pode ser que tenha a ver com isso que todo mundo fica me lembrando o tempo todo: deixar namorado pra trás. mas acho que tem mais a ver mesmo com o fato de que espero isso há - pasme você - 9 anos. é muita responsabilidade comigo mesma e com os meus sonhos. enfim... espero que você consiga mesmo fazer do seu medo um trampolim! e que conquiste todo aquele velho mundo com a sua brasilidade, com o seu sorriso. :)

    (aqui é a joh, provavelmente no login errado)

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  2. nó, façamos um clubinho do desespero.
    Eu ainda não tive esse momento de realização na hora de comprar a passagem - SIMPLESMENTE PORQUE MINHA CARTA DE ACEITE AINDA NÃO CHEGOU - mas eu sei que é um momento crucial e que vai marcar a certeza. Eu entendo tudo que você disse sobre o tanto que é irracional a gente ficar esperando tudo dar errado.
    Eu agradeço imensamente pela conclusão do seu post, porque lembrar que os nossos grandes desejos também nos amedrontam me acalmou sensivelmente.

    (aqui é a Amanda, lol, e vou te adicionar aos meus links no meu blog =])

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  3. oba! pessoas que realmente vão me entender lendo meu blog!

    te linkei, também, amanda! e sua carta de aceite vem... agora vem! hahahaha! :)

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  4. Aperte o cinto, controle as batidas cardíacas, pois é "chegada a hora"! Tão sonhada, tão planejada e finalmente realizada. Será uma experiência nova para você e para nós mas como bem diz o seu pai "quando penso que será uma ótima oportunidade" meu coração se acalma! Vai descobrir e viver novas experiências e aplique sempre todo o bom ensinamento que a demos tá?TA/Mam's!

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