domingo, 27 de fevereiro de 2011

a prorrogação que leva ao segundo tempo

há mais de três meses atrás, quando escrevi meu último post aqui embaixo, os primeiros sintomas de saudade genuína começavam a dar uns leves apertos no meu coração. mas, muito maior que ela, ainda prevalecia a vontade de ver mais, de viver mais. a sede era tanta e o tempo era tão curto, que eu parei de escrever aqui para começar a escrever e.mails pedindo encarecidamente para que as pessoas que me trouxeram até coimbra deixassem que eu me demorasse por aqui.

não foi fácil. mas, com uma carta de recomendação aqui, uma ligação ali, uma súplica acolá, todas regadas a muita ansiedade, eu acabei conseguindo o que tanto queria.

meus quatro meses restantes em coimbra dobraram. ganhei mais tempo para conhecer melhor portugal e lugares da europa ainda não visitados; ganhei a oportunidade de cursar mais duas disciplinas que cobiçava desde que cheguei aqui, mas que descobri só serem ofertadas no segundo semestre; ganhei a oportunidade de viver a tão famosa queima das fitas de coimbra; e ganhei um monte de coisas com as quais eu definitivamentre não contava.

de início, ganhei mais rotina na minha vida conimbricense: a pilha de livros para ler foi acumulando e diminuindo minhas noites de festas. essas, quando eram possíveis, foram se tornando cada vez mais iguais e previsíveis, com os sets sempre iguais e aquela sensação muito belorizontina de que a maior parte dos rostos já era conhecido. ganhei dois casacos e dezenas de cachecóis, porque o calor extinguiu-se de vez e aquela mala que eu não soube fazer revelou-se finalmente ineficaz.

como uma coisa puxa a outra, o frio e a rotina me colocaram com muito mais freqüência à frente do computador. no computador, eu ganhei uma paixão. e, da paixão, eu ganhei aquela ânsia pelo regresso que várias vezes ouvi por aqui, mas nunca entendi.

e foi aí que eu ganhei uma grande risada do universo – que se muito tem de ironia, também carrega bastante de ensinamento. tal como dois corpos não podem habitar o mesmo espaço, duas grandes vontades nem sempre podem ter lugar ao mesmo tempo. portanto, se eu quis muito coimbra por mais oito meses, agora só me era permitido reservar ao brasil o segundo semestre de 2011.

quem passou a ser soberana foi a saudade – não mais localizada, mas geral. comecei então a perder. perdi o acesso ao botão fast forward que parecia ter sido involuntariamente ativado desde que cheguei aqui; perdi o entusiasmo pela vida alucinada de erasmus; perdi a cor pelo sol que, mesmo quando aparecia, se recusava a esquentar; e, recentemente, perdi de vista aqueles que são a parte mais significativa de todo o encantamento que eu senti e nutri desde setembro.

um a um, meus novos e já eternos amigos intercambistas – os quais vibraram pela minha permanência sem contudo querer imitá-la – empacotaram os 64kg de coisas permitidas pelas companhias aéreas (eventualmente deixando o excesso para mim) e partiram de volta ao que hoje é meu destino mais almejado, mas não encontrado na lista dos vôos low cost.

na semana passada, eu vi partir da estação o comboio que levava minha última delicinha coimbrã embora. recusando-me a aceitar que eu havia perdido em definitivo tudo o que essa cidade me deu de bom, eu me programei para uma empreitada rumo à redescoberta das noites ao redor da praça da república e ao conhecimento de novas pessoas. não deu: adoeci.

mas eis que a vida nada mais é que uma onda senoidal e, no tempo que levei para me curar da gripe, acabei curando um pouco da negatividade que vinha tomando conta de mim há algum tempo.

no meu tempo forçado de repouso, acabei revendo todas as fotos e vídeos capturados por aqui até então. seguindo a ordem cronológica dos arquivos, lembrei com exatidão dos momentos que foram registrados e daqueles que não foram.

e aí eu cheguei na pasta “coimbra tem mais encanto na hora da despedida”. e com essa última foto que eu tirei com a mari...

... eu me lembrei dela me mandando parar de contar os dias para o retorno e aproveitar coimbra como eu sempre o fiz.

e com essa última foto que tirei com a lena...

...eu me lembrei do pesar que ela demonstrava vivamente ao ter que deixar essa cidade e do pedido dela para que eu vivesse esse prolongamento de intercâmbio por nós duas.

agora, com essa última foto que tirei com a fê...

... eu me lembrei dela me ensinando que o tempo passa no tempo em que ele tem que passar, e que, assim sendo, só nos resta respeitar seu ritmo e tirar o melhor dele.

e aí sim, como um interruptor da obviedade que não se quer enxergar, acendeu-se em mim a conclusão de que nada foi perdido. os amigos que eu fiz aqui agora estão à minha espera no lugar para o qual eu vou voltar, num dia que já é certo e num futuro não tão distante assim. antes disso, a cor que o inverno me tirou, a primavera vai me trazer de volta. e se a vida de erasmus não é mais novidade, talvez isso seja um benefício para que as festas terminem em menos ressaca – o que, sinceramente, seria um ganho nada mau.

com esse post, eu ressuscito meu blog e o meu intercâmbio, decretando o início de um novo , com a vontade de novos amigos – porque, afinal, por melhores que sejam os que a gente já tem, eles nunca são demais – e com a ânsia por novas descobertas.

no coração, muita saudade do que já foi, mas também um pressentimento sincero de que a minha onda está prestes a subir novamente.

3 comentários:

  1. lindeza! você não perde amigos, só acumula. quem não quer um carinho dessa mãozinha macia? espanta essa urucubaca, porque o tempo passa rápido de qualquer jeito. aproveita coimbra sem esquecer que tem coisas lindas te esperando aqui! boa sorte e seja muito feliz! =*

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