domingo, 24 de outubro de 2010

quem fala português? - parte 2

eu tenho muito para contar sobre a latada, mas deixarei isso para a quinta-feira de cinzas coimbrã, quando já tiver visto e vivido de tudo, e tiver noção do tamanho do estrago que ela fará aos estudantes da universidade.

por isso, enquanto me recupero da madrugada de ontem e ainda considero a ideia de aproveitar a de hoje, sentei ao computador para falar de outra coisa.

o que acontece é que, ontem, enquanto eu praticamente cambaleava pela latada – e não, eu não acho isso bonito –, alguém me chamou no meio da confusão e começou o seguinte discurso veemente, mas risonho:

_ ei, eu sei onde fica belo horizonte, e eu vou te falar agora: é a capital de minas gerais! eu colori os mapas na 4ª série, e a minha família é de barbacena, que fica a duas horas da sua cidade!

quem dizia isso era a julia allevato. porque eu estava bastante alterada e ela parecia estar na mesma condição, eu a princípio não entendi nada do que era aquilo. até que eu me lembrei dela, e vocês certamente se lembrarão, também.

a julia foi a garota carioca que eu conheci no meu primeiro dia sozinha em coimbra, e sobre quem eu postei a seguinte mensagem no meu mural do facebook:

lembra da 4ª série, quando a gente fazia uns exercícios pra decorar os estados brasileiros e suas respectivas capitais?

pois eis que hoje me chega uma menina do rio e me pergunta: "de onde você é?". eu respondo "belo horizonte!" e ela devolve "onde fica essa cidade?".

qué dizê...

naquele mesmo dia, a julia acabou me achando entre os contatos da fê, viu a mensagem, e eu nem sei se ela pensou em me adicionar por lá, mas eu imagino que, se a vontade houve, ela passou no momento em que ela reconheceu ser a personagem do meu relato.

acontece que, na ocasião, ocorreu à julia o mesmo que me ocorreu quando eu conheci a fê, e o mesmo que me acontece diariamente no meu contato com os portugueses: não familiarizada ao meu belorizontinês de palavras pronunciadas pela metade, ela não conseguiu entender que “belzôntchi” era a capital do estado vizinho ao dela, conforme ela aprendeu na 4ª série e nunca mais esqueceu, assim como eu. e ao contrário de mim, que nessas situações sempre opto pela tática de apenas soltar um “huuuum!” e nunca saber o que realmente me disseram, a julia parece mais disposta a fazer um esforço extra para entender as pessoas.

eu nem preciso ressaltar que, visto que minas são muitíssimas, ter descendência barbacenense não necessariamente a deixa preparada para travar uma conversa comigo sem equívocos linguísticos, né?

junto com essa retratação – que eu prometi à julia ontem, mesmo ela dizendo não ser necessário –, vai também o reconhecimento de que passar toda a minha vida convivendo quase que exclusivamente com um só dialeto e cultura me tornaram um bocado intolerante para receber bem de cara outros sotaques e comportamentos. e me parece que eu talvez tenha me preparado bastante para entrar em contato com os estrangeiros, mas não estava realmente aberta para aproveitar o período em outro país para conhecer um pouco mais do meu. felizmente, parece que coimbra vai acabar me curando desse mal.

quem poderia imaginar que fazer intercâmbio numa cidade de interior acabaria me deixando, na verdade, menos provinciana?


(nota: logo que esse incidente com a julia ocorreu, o henrique me alertou para o fato de que ela podia simplesmente não ter me entendido. aposto que, se ele ler isso, vai vir tirar uma com a minha cara.
)

Nenhum comentário:

Postar um comentário