quarta-feira, 13 de outubro de 2010

quem fala português?

advertência: post plurilíngue. e o google translator dificilmente te ajudará aqui.

uma das coisas que se estuda à exaustão no primeiro período do curso de letras da ufmg é algo empiricamente óbvio até para uma criança que tem em sua classe um coleguinha que veio de outra cidade/estado/país: nenhuma língua é una em qualquer aspecto que analisemos dela. duas pessoas que possuem a mesma língua-materna, mas origens distintas, certamente também terão distintos jeitos de expressar a mesma coisa – e isso será evidenciado na formação de uma frase, na escolha dos palavras, ou na maneira de emiti-las.

eu sei disso, e você também – com a vantagem de que você talvez não tenha passado um semestre concluindo isso duas vezes por semana.

morando num país extremamente extenso, toda viagem de férias a outro estado sempre foi uma boa oportunidade de experimentar um pouco dessas diferenças. e como elas se faziam presentes na melodia das palavras do outro, ou em uma ou outra expressão antes desconhecida, sempre foi uma diversão à parte (e, confesso, um dos primeiros motivos que acabou me levando à fale).

vinte e um anos de poucos equívocos comunicacionais realmente indissolúveis acabaram por me fazer confiante quanto ao meu domínio da língua portuguesa. não só a mim, mas certamente àqueles que selecionaram a mim e aos meus colegas para o intercâmbio sem cobrar qualquer teste de proficiência lingüística.

mas o que acontece quando, ao entrar num avião da tap, você começa a torcer o nariz para o estranho inglês da aeromoça que passa as instruções de segurança, até perceber que ela está falando, na verdade, a mesma língua que você? e como continuar tão certo da sua capacidade de se comunicar em português quando se torna extremamente necessário que te repitam a mesma coisa pelo menos duas vezes até que você consiga captar a essência da mensagem? mais: o que fazer quando você tem a certeza absoluta de que entendeu perfeitamente cada palavra dita, mas não depreendeu sentido algum delas?

não acho piada nos finos, mas é bué da fixe quem os bebe com palhinhas. esta frase faz algum sentindo para você, leitor brasileiro do blog? pois aqui ela passaria em uma conversa sem qualquer cócega cognitiva, apesar d’eu não estar certa de quando ela seria pertinente.

bem antes de vir morar em coimbra, fui apresentada ao bruno aleixo, o ex-ewok-agora-cachorro mais famoso desta cidade, que passou a me divertir gradativamente, a cada replay que eu dava em seus vídeos, com o volume ajustado no máximo, tentando entender tudo o que estava sendo dito ali.



à medida que o número de replays necessários diminuía, comecei a achar que havia encontrado na animação um bom treinamento para eventuais dificuldades que pudesse encontrar para entender o sotaque português. não resultou em quase nada. acabei por descobrir que, comparada ao verdadeiro sotaque coimbrão, a dicção do menino bruno é como a adotada pelo william bonner ao apresentar o jornal nacional.

a sensação de que a sua relação com o português passou a “lê: bem / escreve: bem / fala: razoavelmente / compreende: pouco” pode ser bem desesperadora a princípio. semana passada, um outro erasmus brasileiro que havia acabado de chegar assistiu à sua primeira aula do meu lado com uma expressão de sincero pavor, nada condizente com o caso descontraído (e ininteligível pra ele) que a professora contava.

e eu não consigo me decidir o que mais dificulta a sua adaptação ao que é, teoricamente, apenas uma variante da sua língua-materna. porque, não bastasse a gama imensa de termos e expressões desconhecidas por nós, eles ainda falam rápido DEMAIS. tão rápido, que minha mãe, tão mineira e tão essônspassnasavass? (tecla sap para os não-mineiros: esse ônibus passa na savassi?) quanto eu, ouviu de um garçom português que nós brasileiros temos todos uma “fala descansada”.

mas os dias vão passando, e os equívocos linguísticos provam quase nunca serem danosos. e, com a exposição constante a uma versão mais chiada, introvertida e rrrrrebuscada da sua língua, a sua capacidade de decifrá-los acaba melhorando rapidamente – assim como o seu conformismo para, por vezes, apenas sorrir e concordar com algo que seria inútil tentar entender.

e eu já posso dizer que estou quase que integralmente de volta à situação de me divertir colecionando curiosidades linguísticas do português. tanto que, abaixo, disponibilizo uma lista dos termos e expressões que mais me apeteceram até agora – inclusive os que farão vocês traduzirem aquela frase lá do meio do post. ah! e as que estão destacadas são as que, vejam só!, eu já incorporei involuntariamente ao meu léxico:



obs: agora, apesar de tudo que já aprendi, ainda estou procurando insistentemente por alguém que me explique por que usar uma blusa com os dizeres “acalma o grelo, a queima vem aí!” não provoca estranhamento por aqui.

Um comentário:

  1. AUHSDUHASDUHASDHA! ADOREI, GENTE!! Mto zovem, não me arrisco tentar construir uma frase com as novas palavras que aprendi, mas digo uma coisa então: do balacobaco! heheheheheheh

    beijonzon! ^^

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