domingo, 24 de outubro de 2010

coimbra songs

amália rodrigues cantou há um bocado de tempo atrás o que vocês provavelmente conheceram pela voz do roberto carlos:

coimbra das canções
coimbra que nos põe
os nossos corações à luz
coimbra dos doutores
pra nós os seus cantores
a fonte dos amores és tu.

mas o que os doutores de coimbra cantam? durante as serenatas, o bom e tradicional fado, claro. mas, no cotidiano universitário dessa cidade, o que se ouve sendo entoado nas ruas, nas festas, nos ônibus, e ao pé da janela da sala onde você está tentando se concentrar em entender o que o profesor diz são canções nada melancólicas, tampouco ligadas ao destino português.

isso não significa, no entanto, que elas também não sejam tradicionais! aliás, eu sou capaz de apostar que alguns jovens portugueses têm na ponta da língua todas as músicas que eu apresentarei, mas talvez encontrem alguma dificuldade em recitar por inteiro qualquer música da diva fadista acima citada.

não posso culpá-los por isso. a combinação de fatores que as compõe, incluindo a situação em que são cantadas, fazem com que elas grudem na sua cabeça com uma facilidade absurda. não demora muito para que você também fique à procura do momento certo para soltar uma delas.

muitas delas são constituídas de letras quase sempre pesadas – algumas sendo, inclusive, impublicáveis neste blog de respeito – associadas a melodias de músicas que todo mundo conhece. dos engenheiros, por exemplo, o que mais se ouve é uma versão de “yellow submarine” que seria vetada com muito mais força que a releitura de “i want to hold your hand” proposta pela rita lee foi.

algumas são como hinos para os cursos. outras são hinos para a faculdade inteira. e algumas são apenas um fundo para incentivar a bebedeira desenfreada, como as duas primeiras que apresento a seguir.

“mão direita é penalty...” e “bebe essa merda”

começo por uma que, pelo que já pude perceber, não foi criada aqui, e parece ser bem popular em todo o país.

lembro-me de alguém ter me contado que, aqui em portugal, não se pode beber vinho com a mão direita. não é apenas errado, mas ofensivo para o português. para ensinar isso aos que vêm de fora, criou-se uma perigosa lição: sempre que alguém flagra uma pessoa bebendo algo (e não precisa ser exatamente vinho... não aqui, pelo menos) com a mão direita, canta-se:

mão direita, mão direita
é penalty, é penalty, é penalty...

para os apressadinhos, a música começa lá pelos 36 segundos de vídeo



e a pessoa é obrigada a beber todo o conteúdo do copo de uma só vez. no brasil, essa situação certamente pediria um “vira, vira, vira, virooou!” enquanto a pessoa estivesse cumprindo sua penalidade.

em coimbra, o fundo musical para o momento é o refrão de “can’t take my eyes of you”. modificada, é claro, para

bebe essa merda, lá lá lá lá lá lá
bebe essa merda, lá lá lá lá lá lá...

o áudio do vídeo é MUITO ALTO! cuidado com os ouvidos!



“f-r-a-” (“éfe-érre-á”)

essa é tradicionalíssima! e tem história, que eu achei na wikipédia:

o grito académico português, ou F-R-A ("éfe-érre-á"), acrónimo de frente revolucionária académica, é um grito exuberante lançado pela comunidade académica portuguesa como saudação de honra ou mera manifestação de alegria.

criado originalmente na academia de coimbra como 'arma' de luta política, pensa-se que terá sido dito pela primeira vez pelos quintanistas de medicina, na noite de 26 de maio de 1938.

a música talvez já tenha sido esvaziada de seu sentido primeiro, mas continua igualmente empolgante! como eu só ouvia onomatopeias e interjeições esquisitas sempre que alguém puxava o f-r-a, acabei perguntando ontem para o murillo, que é caloiro, o que exatamente dizia a música. e, no fim das contas, a letra não está tão distante da minha impressão inicial. geralmente, ela é entoada em forma de pergunta-resposta entre um “puxador” e a malta (= turma, galera. faltou essa no meu nanodicionário, hein!):

_então malta, para
este nosso colega,
não vai nada,nada,nada,nada?

_tudo!

_mas mesmo nada,nada,nada,nada?

_tudo!

_então, com toda a cagança,
com toda a pujança
e do fundo do coração,
aqui vai um...F-R-A!

_Frá!

_F-R-E

_Fré!

_F-R-I

_Frí!

_F-R-O

_Fró!

_F-R-U

_Frú! Frá-fré-frí-fró-frú!
Áli-quá-li-quá-li-quá! (bis)
Chiribiribi -tá-tá-tá!(bis)
Hurra! Hurra! Hurra!



“coimbra é nossa”

essa é, definitivamente, a minha favorita! talvez porque me lembre os meus tempos de mineirão com o meu pai, cantando “é cruzeirô! é cruzeirô!”, já que a melodia é a mesma; ou talvez porque resuma o meu sentimento quanto à cidade de uma forma nada romântica, fato, mas bem fiel:

coimbra é nossa!
coimbra é nossa!
coimbra é nossa e há de ser...
coimbra é nossa e há de ser,
coimbra é nossa até morrer!



esse post é uma pequeniníssima amostra das coimbra songs que tenho aprendido diariamente. está aqui mais uma prova de que, em coimbra, ter uma divertida vida universitária é coisa séria.


4 comentários:

  1. desde que descobri teu blog, tenho acompanhado por mérito da escrita gostosa que você tem e por achar curiosa a experiência de ir viver na terra do pessoa.
    te ofereço essa imagem que fiz há pouco.
    http://www.flickr.com/photos/flaviodecastro/5112907650/
    um abraço.
    f.

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  2. poxa, flavio!
    muitíssimo obrigada pelas palavras e pela foto - que, além de linda, tem um poema que eu realmente adoro na composição!

    permita-me que eu reforce o que você já deve perceber por tudo o que relato aqui: viver na terra do pessoa é não só uma experiência curiosa, mas deliciosa! :)

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  3. ADOREEEEEEI, E OLHA QUE EU LI TUDO EIN!!!!

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