sábado, 21 de agosto de 2010

“home is where the heart is”… and where you can live decently

desde o início dos meus preparativos para o intercâmbio, achei que arrumar um canto para morar aqui seria uma das partes mais fáceis. afinal, coimbra gira em torno da universidade, de modo que é de se esperar que não faltem oferta de moradias a estudantes. e, de fato, elas são muitas. só que nem sempre estão, de fato, hum... habitáveis.

durante três dias, dediquei quase todas as horas fora do hotel à procura por um quarto para menina que possuísse um banheiro privado. essa condição – fundamental, para mim – diminuiu bastante as minhas opções. mas também andei vendo alguns quartos com banheiros partilhados e posso dizer que não é apenas essa exigência que dificulta a coisas. eu, que não quis reservar nenhuma moradia enquanto ainda no brasil, apenas pela internet, constato agora que fiz uma sábia escolha. as possibilidades de se cair numa roubada grande são consideráveis: lugares muito sujos, quartos em sótão em que o teto não te permite ficar totalmente em pé, janelas minúsculos que apenas têm um propósito de trazer a mínima quantidade de ar fresco necessária para o recinto...

em coimbra, os proprietários dos quartos oferecidos quase nunca habitam o mesmo lugar. por isso, é sempre necessário ligar e agendar uma visita. nesses agendamentos e visitas, algumas situações merecem registro aqui:

caso 1: dona rosa - a velhinha mais fixe

“fixe”, aqui, é como se chama algo ou alguém legal, descolado. e é exatamente o que dona rosa é. sua pensão fica no largo da sé velha, ponto turístico famoso e bem perto do pólo I da universidade. ao lado da pensão, fica o bar também pertencente a ela, contendo as mais diversas bebidas, todas dispostas a derrubar os estudantes mais resistentes. dona rosa deve ter pra lá dos 70 anos. parece aquelas avós que mimam os netos até não poder mais. nada de incomum em sua imagem, a não ser o fato de que dona rosa tem uma tatuagem. sim, senhores! uma borboleta gravada no antebraço, a impressionar aqueles que, como eu, sempre pensam que tatuagem é algo que só se tem até os 40 anos (e eu me pergunto o que acharei de mim mesma quando for uma velhinha tatuada). mas dona rosa é tão fixe e tão popular por aqui, que já não tinha mais quartos disponíveis para me abrigar, de modo que o meu contato com essa fixe senhora será apenas pelas mesas do seu bar.

caso 2: google maps way of life

se explicasse em palavras, não ia ficar tão claro o quão absurda foi essa situação. então, resolvi ilustrar:

ligamos para esta moça, que mora na casa onde o quarto é oferecido, e dissemos a ela que estávamos na praça da república, assinalada em vermelho. a menina não queria dar-nos o endereço, disse que era mais fácil explicar como se chegava ao lugar. o lugar ficava neste ponto indicado em verde:

o caminho que ela nos mandou fazer – e que de fato fizemos, por não conhecermos nada ainda – foi este:

depois de muito andar, chegamos à tal rua, cheia de casas muito simpáticas, à exceção de uma muito antiga e descuidada, quase em ruínas. adivinhem qual era a casa da moça... minha mãe nem quis entrar.


caso 3: senhor... oi?

hoje, fomos conhecer o quarto oferecido pelo miguel, um senhor que parece ter aprendido o mínimo da dicção oral apenas porque se comunicar é uma convenção social necessária. não é que ele fale exatamente pouco, mas não se entende uma palavra! japoneses aprendendo a falar português se fariam entender melhor que este homem, para quem tivemos que ligar cerca de 5 vezes, nas quais revezávamos ao telefone minha mãe e eu, na esperança de captar expressões que nos levassem próximo ao lugar cujo endereço ele também insistia em não passar, acreditando ser mais fácil explicar-nos como chegar lá. de fato, era bem fácil, mas a dificuldade de comunicação fez com que ele tivesse que nos procurar até onde conseguimos chegar com o que entendemos.

um alívio quando alguém num carro azul marinho nos buzinou, acenando do lado oposto da esquina! atravessamos, prontas para entrarmos no carro e seguirmos até o apartamento, quando ele soltou: “podem seguir em frente mais 200 metros, que já avistarão o lugar”. arrancou o carro, e foi. oi? não era nem questão de cortesia. era também, mas muito mais de praticidade: afinal, não estávamos indo para o mesmo lugar?

só para constar: ao vivo, também não entendíamos muito das palavras dele. nada de culpar a telefonia portugesa....

caso 4: o MEU quarto!

quem combinou a visita comigo hoje foi a proprietária, dona olinda. mas, ao chegarmos no local combinado, estava lá também a sua filha, aldina, professora do curso de letras que já esteve em belo horizonte em 2000 para um congresso sobre guimarães rosa. tendo descoberto isso com cinco minutos de conversa e ainda a caminho do apartamento, eu já sabia que estava indo conhecer minha futura casa.
e, ao chegar no apartamento, a conversa com aldina nem precisou servir de argumento à minha decisão. um lugar espaçoso, com o jeitinho aconchegante que todo lar de verdade precisa ter. o quarto oferecido é grande, com uma bonita vista (localiza-se no quinto e último andar do prédio) e bons móveis.

aqui moram uma portguesa, uma brasileira e uma timorense. até agora, só conheci a portuguesa, margarida, um ano mais nova que eu, e uma graça de pessoa!

depois de três dias de bastante estresse e furadas, apresento a vocês a fachada do que será minha casa pelos próximos seis meses:


fica um pouco longe da universidade, mas há um ponto de ônibus logo em frente. estou a 5 minutos a pé do dolce vita, um shopping bem bacana que já me conquistou por possuir uma franquia do kfc na praça de alimentação (os vegetarianos e saudáveis que me desculpem, mas frango frito no balde é fundamental). também estou bem ao lado do estádio da cidade, onde o u2 fará dois shows agora em outubro, que eu certamente escutarei na íntegra do meu quartinho. alguém quer uma transmissão ao vivo? ;D

3 comentários:

  1. Ai, Marcela! Que felicidade!!!
    Esse lugar é tão lindo que a sua vizinha tem nome de flor.
    Ai ai ai... <3 !

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  2. putz... adoro ler os seus textos. eles me enchem de orgulho e me embevecem de tanta clareza!!
    tô feliz pela "casa nova", confiante que você terá muitas histórias boas a trazer na mala!
    te amo!!
    (p.s.: observou as minusculas?!)

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  3. hã... sei lá, vou garantir... o Marcelo do post anterior, é o papai... hehehe

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